Mario de Sá Carneiro – Álcool | Poesia Portuguesa

Mário de Sá-Carneiro foi um poeta, contista e ficcionista português, um dos grandes expoentes do modernismo em Portugal e um dos mais reputados membros da Geração d’Orpheu. Nasceu em 1890 e morreu em 1916, aos 25 anos de suicídio.

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Mario de Sá Carneiro – Álcool

Guilhotinas, pelouros e castelos

Resvalam longemente em procissão;

Volteiam-me crepúsculos amarelos,

Mordidos, doentios de roxidão.

Batem asas de auréola aos meus ouvidos,

Grifam-me sons de cor e de perfumes,

Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,

Descem-me a alma, sangram-me os sentidos.

Respiro-me no ar que ao longe vem,

Da luz que me ilumina participo;

Quero reunir-me, e todo me dissipo —

Luto, estrebucho… Em vão! Silvo pra além…

Corro em volta de mim sem me encontrar…

Tudo oscila e se abate como espuma…

Um disco de oiro surge a voltear…

Fecho os meus olhos com pavor da bruma…

Que droga foi a que me inoculei?

Ópio de inferno em vez de paraíso?…

Que sortilégio a mim próprio lancei?

Como é que em dor genial eu me eternizo?

Nem ópio nem morfina. O que me ardeu,

Foi álcool mais raro e penetrante:

É só de mim que ando delirante —

Manhã tão forte que me anoiteceu.

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Poema: Álcool

Poeta: Mario de Sá Carneiro

Voz: Jéssica Iancoski | @euiancoski

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