Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) – Poema em Linha Reta | Poesia Portuguesa

Álvaro de Campos é um dos heterónimos mais conhecidos, verdadeiro alter ego do escritor português Fernando Pessoa. Foi criado em 1915, nasceu em Tavira, no extremo sul de Portugal, a 15 de outubro de 1890. Estudou Engenharia Naval, na Escócia. No entanto, não exerceu a profissão por não poder suportar viver confinado em escritórios. Álvaro de Campos é um poeta moderno, aquele que vive as ideologias do século XX.

>> Apoie o projeto e nos ajude a espalhar mais poesia

https://apoia.se/tomaaiumpoema

Poema: Poema em Linha Reta

Poeta: Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Voz: Bia Vianna

Use #tomaaiumpoema

Siga @tomaaiumpoema

“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo,

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,

Para fora da possibilidade do soco;

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,

Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.”

Descubra mais em www.jessicaiancoski.com

Está servido? Fique! Que tal mais um poeminha?

___

>> Quer ter um poema seu aqui? É só preencher o formulário!

Após o preenchimento, nossa equipe entrará em contato para informar a data agendada.

https://forms.gle/nAEHJgd9u8B9zS3u7

CONTRIBUA! =P

>> Formulário para Indicação de Autores, contribuição com declames, sugestões (…)!

https://forms.gle/itY59kREnXhZpqjq7

Deixe um comentário

Required fields are marked *

Comment*

Name*

Website