Hortência Siebra – Encantado | Antologia Poética Infâncias

Poema de Hortência Siebra – Encantado, presente na nossa antologia poética Infâncias. Leia de Graça.

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Hortência Siebra – Encantado

Meu avô morreu cedo,

Não me esperou chegar.

Não importa.

De tanto ouvir, recriei o meu avô.

Ele, com a mala de couro,

Saindo de casa, sem se despedir,

Para morar na Lua.

Toda noite,

Eu virava a menina de olhos presos à Lua.

Ficava tentando ver o meu avô.

Ficava imaginando como ele vivia

Naquele lugar tão pequeno e claro.

Como é que ele conseguia viver ali

Cercado de solidão?

Será que ele não dormia?

Será que ele precisava ficar acordado,

Esperando o dia começar,

Para que a Lua se apagasse?

Ou será que era ele mesmo quem,

Pela manhã, apagava a Lua?

Naquela época,

Ouvi a história de São Jorge,

Que matava um dragão.

Logo, passei a acreditar que a luta

Tinha sido também na Lua.

Primeiro, me angustiei,

Achando que o dragão,

Antes de morrer,

Pudesse ter ferido meu avô.

Depois, fiquei feliz.

Se São Jorge foi até lá matar um dragão,

Deve ainda estar lá lhe fazendo companhia.

Passei a olhar para a Lua sem tanta apreensão.

Agora, meu avô morava com São Jorge

E lá já não existia mais solidão.

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Poema: Encantado

Poeta: Hortência Siebra

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