Poema de Raylyne Ribeiro – Sobre Todas As Vezes Em Que Fui Pintada, para o especial Novos Autores Pela Diversidade, semana Negritude!
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Poema: Sobre Todas As Vezes Em Que Fui Pintada
Poeta: Raylyne Ribeiro
Voz: Jéssica Iancoski | @euiancoski
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Olá,
Eu sou a “preta”,
Que é preta demais pra ser branca,
Mas é branca demais pra ser “preta”
—eles disseram.
Eu sou a “preta”,
Que é filha de outra preta que não aceitou que era “preta”
Porque o “preto” ainda é marcado como escravo,
E demarcado, como “bravo”
Eu sou a “preta”,
Mas que é “branca” demais pra sofrer racismo
Sou a “preta” obrigada a andar na “reta”
A que ainda consegue vaga nas “bancas”
A que ainda se “banca”
Eu sou a “preta”
Que não é bem “preta”
Sou a “café com leite”—intolerante à lactose
Sou a “parda”
A figurante cheia de “pose”
E todas as vezes em que fui “pintada” como a “preta que não era tão preta”
Me fiz de “careta” alisada— do cabelo à alma,
Adestrada.
Eu sou a “preta”
Que por não ser tão “preta” ainda tenho mais sorte
Pois de acordo com as estatísticas:
Só por ser “bem preta” já se está mais perto da morte;
Seja ela por abuso,
Bala perdida,
Ou apenas o “acuso”
Vindo de uma sociedade que enxerga tudo em preto e branco
Onde quem é de comunidade
Com certeza não é o dono do “banco”
—nem se o banco for o da praça.
Sou a “preta” que matam na periferia todos os dias, e brindam com taça
—de vinho,
Cor de sangue.
Adivinho,
E adianto:
Que eu sou a “preta” que já foi pintada demais como todos queriam
E agora sou minha própria folha em “preto”.
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